Muito antes de março de 2020, a utilização desse aparato se fazia necessária para atendimentos odontológicos. De acordo com a “Cartilha de Proteção Respiratória contra Agentes Biológicos para Trabalhadores de Saúde” (ANVISA, 2006), a máscara cirúrgica de ser utilizada para proteção contra a inalação de
patógenos transmitidos por gotículas; enquanto que para proteção contra patógenos transmitidos por aerossóis, um respirador PFF2 deve ser utilizado.
E aqui eu devo responder duas perguntas antes de continuar.
Qual a diferença entra gotícula e aerossol?
Basicamente a diferença está no tamanho. Gotículas são partículas líquidas com mais de 20-50 micrômetros de diâmetro, enquanto que aerossóis são menores. Por favor, não se atenha aos micrômetros! A minha definição pessoal é a seguinte: saiu da fonte (a boca, por exemplo) e caiu no chão, é gotícula; saiu da fonte e flutuou, por ser muito pequena e mais leve que o ar, é aerossol. As implicações práticas são as seguintes: gotículas espalham-se em um raio de aproximadamente 2 metros, entretanto, por serem maiores, abrigam mais microrganismos e por isso possuem uma maior infectividade (potencial de infectar outra pessoa). Aerossóis permanecem flutuando no ambiente por horas, entretanto, por serem menores, possuem uma menor infectividade.
O que é um respirador PFF2?
A abreviação PFF significa Peça semi Facial Filtrante. A máscara (ou respirador) conhecida como N95 refere-se a uma classificação de filtragem adotada nos Estados Unidos (EUA) e equivale, no Brasil, ao respirador PFF2. Segundo a classificação da ANVISA, um respirador PFF2 deve filtrar pelo menos 94% das partículas que passam por ele.
Agora que você sabe a diferença entre gotículas e aerossóis, e o que é um respirador PFF2, podemos voltar ao nosso assunto!
Devemos entender que o dentista trabalha em intimidade (em torno 30 cm de distância) com a boca do paciente e que ao respirar, o paciente pode liberar aerossóis contendo microrganismos patogênicos. Por isso a máscara indicada para o exercício da Odontologia é sem dúvida um respirador PFF2.
Além disso, meus queridos colegas, devemos avaliar se o respirador está bem adaptado no rosto e proporcionando uma boa vedação. Rosto fino com respirador largo ou barba cumprida, prejudica a vedação. Consequentemente, você estará jogando dinheiro fora e ficará desprotegido com a sensação de estar protegido (isso é muito perigoso!). Pesquisadores, da Universidade de Cambridge, realizaram uma série de diferentes testes de ajuste e descobriram que quando uma máscara de alto desempenho – como um respirador PFF2 – não é devidamente ajustada, ela não tem melhor desempenho do que uma máscara de pano (O’KELLY et al., 2021). Assim, a máscara cirúrgica, por melhor que seja, não veda no seu rosto e assim só proporciona proteção contra gotículas e não contra aerossóis.
A adaptação é mais importante do que a filtragem!
Além disso, respiradores com válvula não podem ser utilizados para o atendimento odontológico, pois quando você expira, as gotículas e aerossóis da sua respiração são liberados pela válvula, podendo contaminar seu paciente.
Em relação a reutilização desse protetor respiratório, a própria Anvisa assume que ele pode ser reutilizado enquanto estiver em bom estado, isto é, com vedação aceitável, tirantes elásticos íntegros e não estiver sujo ou contaminado por fluidos corpóreos. Ou seja, é só usar o bom senso!
Um fato importante a ser relatado é que não deve colocar dentro do forno ou passar álcool na tentativa de desinfetar o produto. Não esqueça que essa máscara/respirador é feita de fibras tratadas eletrostaticamente. Se aquecer no forno, ela derrete. Se umedecer com álcool ou qualquer outro desinfetante, a máscara perde seu tratamento eletrostático e consequentemente, seu poder de filtragem.
